Em Cannes, todos os holofotes foram para Lars von Trier. O polémico diretor dinamarquês conseguiu chocar o público e dividir a crítica. Bom ou ruim, o filme é polémico e chocante.
Dividido em prólogo, epílogo e outros quatro capítulos, Anticristo narra a história de um casal (Willian Dafoe e Charlotte Gaisnbourg) que, após a morte do filho pequeno, se isolam numa cabana em uma floresta – chamada de Éden – para curar a dor. Visto assim, o filme não parece muito diferente de "A Liberdade é Azul", de Kristof Kieslowski, inesquecível história sobre a perda. Mas se Kieslowski resumiu a dor da personagem de Juliette Binoche, que perdeu o marido e a filha num acidente de carro, na comovente cena em que ela raspa as costas das mãos de uma parede ondulada, von Trier adoptou a violência e a mutilação sexual como armas para externar a dor dos seus personagens.
É notório que a dor física consegue abrandar a dor da alma – esta, nunca quantificada e aparentemente mais dolorosa. Partindo dessa ideia, o diretor expôs o casal protagonista ao extremo. Se o filme começa com Lascia ch’io Pianga, da ópera Rinaldo, de Händel, como pano de fundo de uma cena em que o prazer sexual se mistura a morte de uma criança, o que vemos a seguir é a dor apresentada de todas as formas, culminando com a perturbadora cena em que a personagem de Charlotte corta o seu clitóris com uma tesoura.
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