01/01/2012

NEIL STRAUSS JORNALISTA DE ROCK, ESCRITOR

O jornalista Neil Strauss narra em livro as aventuras vividas no encalço de grandes lendas da pop.

Ele entrevistou pessoas em surtos psicóticos provocados por drogas, gente que se recusava a falar, mulheres lânguidas em suas camas, gente em vias de ser presa, gente que chorou e o abraçou num surto de carência afectiva. Os nomes dos seus entrevistados: Madonna, Courtney Love, Lady Gaga, Snoop Dogg, Bruce Springsteen, Prince, Motley Crue, Marilyn Manson, Christina Aguilera.

Neil Strauss, é um dos mais famosos jornalistas de rock do mundo. Escreve para a Rolling Stone e The New York Times. Cobriu o suicídio de Kurt Cobain e ganhou prémios com um perfil de Eric Clapton. Escreveu um best-seller, The Game: Penetrating the Secret Society of Pickup Artists. Mas agora foi directo ao coração da tormenta: o seu novo livro, Everyone Loves You When You"re Dead - Journeys into Fame and Madness (HarperCollins)2011, o autor faz um exame das circunstâncias em que entrevistou celebridades da pop e do rock, recuperando tudo aquilo que jamais pode escrever em veículos convencionais (incluindo obituários que escreveu e diálogos nonsense com editores e redactores).

É co-autor de três bestsellers do New York Times-Jenna Jameson’s How to Make Love Like a Porn Star, Mötley Crüe’s The Dirt, e Marilyn Manson’s The Long Hard Road Out of Hell, e Dave Navarro’s Don’t Try This at Home, bestseller do Los Angeles Times.

"Na idade de ouro do jornalismo cultural, as pessoas queriam saber sobre os rock stars: quem eram eles, o que eles pensavam, como viviam. Nesse tempo, o jornalista de cultura pop era o emissário que ia buscar essas informações. Mas agora o fã não precisa mais dessa intermediação. O rock star expõe-se por meio do Twitter, do Facebook, dos blogs. É de facto um novo mundo, mas há um problema: agora, eles mostram apenas o que querem mostrar", analisa Strauss, falando ao Estado por telefone, de Los Angeles.

Foi assim que o autor resolveu contar os bastidores de 228 entrevistas que realizou (cantores, músicos, actores). O livro abre com uma anti-entrevista memorável, a recusa de Julian Casablancas, do grupo Strokes, em fornecer algumas aspas minimamente razoáveis para um artigo. "Vamos falar sobre música então", lhe diz Strauss. E ele responde apenas: "Pro inferno a música".

Ele passou sete dias com Lady Gaga, e a viu desabar e chorar nos seus ombros. Comprou fraldas Pampers com Snoop Dogg. Madonna falou sobre morfina, Deus e helicópteros. "Morte é quando você está desconectado de Deus", disse-lhe. E Strauss enfrentou momentos constrangedores, como quando foi atrás de um velho ídolo do R&B dos anos 50, Ernie K-Doe, no bar onde este tocava, e fez a entrevista antes da performance. Quando Ernie K-Doe começou a tocar, ele ligou o gravador para registar alguma música que lhe servisse de embasamento. O músico enlouqueceu quando o viu fazendo aquilo, e parou o show para tomar-lhe a fita. Também chamou amigos no bar para tirar o equipamento do fotógrafo e chamou a polícia.

Strauss diz que não vê influência nem do "gonzo journalism" de Hunter Thompson nem do estilo agressivo de Lester Bangs no seu livro. "Tanto Thompson como Bangs buscam descrever o momento social e histórico naquilo que fazem. O que eu faço é mais tentar entrar dentro da cabeça dos entrevistados, pensar por um momento da forma como pensam, entender o que os faz agir de certa forma e então traduzir isso para os leitores", avalia. Strauss praticamente abandonou o métier recentemente - dedica-se agora a escrever livros, e diz que já tem contrato para escrever mais quatro livros para a editora.

O escritor também menciona as dificuldades de se editar uma boa matéria de rock e pop na velha media tradicional. Al Siegal, editor do New York Times, só permitiu que ele escrevesse a palavra "gangsta" (gíria usada largamente na América) após descobrir que havia um precedente no próprio jornal. Só que era de 1924.

Um outro editor proibiu-o de escrever a palavra "homofóbico" argumentando que só um homossexual poderia fazê-lo. "Não se trata de uma vingancinha, não é isso. É apenas a manifestação da minha liberdade actual. Tive de aturar isso durante muitos anos, e agora estou fazendo o que quero. É mais um ato de liberdade do que uma vingança. Mais humor do que raiva."


Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo

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