O 40º aniversário «The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the
Spiders from Mars» encontra um David Bowie na reforma a gerir o vasto
património que deixou à humanidade desde a segunda metade do Séc. XX. De
acordo com o seu biógrafo, dificilmente abandonará esse retiro mas se
uma condição verbal fosse necessária para descrever este álbum e todo o
trajecto do «camaleão» seria um pretérito quase perfeito.
Do ponto de vista conceptual, «…Ziggy Stardust…» é um farol da
representação musical, da criação de uma personagem sustentada num
argumento traduzido em canções. E que canções! De «Moonage Daydream» a
«Ziggy Stardust», terminando em «Rock´n´Roll Suicide», Bowie escrevia um
dos capítulos supremos da história do rock, particularmente o de 70.
O alter-ego andrógeno era não só o traço de uma época de excessos e
extravagâncias - que teve em Alice Cooper e nos Kiss as outras
personagens de maior revelo - como uma referência ainda hoje recorrente
na caracterização de uma personagem sustentada pela música. Marylin
Manson, Lady Gaga ou Lana Del Rey demonstram que, décadas depois, a
história não perdeu actualidade.
Ascenção e a queda de um superherói do rock dão origem a hinos que
não se viriam a revelar proféticos para Bowie: este seria apenas o
primeiro capítulo de uma narrativa que se iria virar para a América
negra na trilogia «Pin Ups», «Diamond Dogs» e «Young Americans» antes de
encontrar em Berlim a sede de todas as experiências. Se o significado
histórico não for suficiente, a remasterização do som é, de facto, uma
mais-valia.
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