28/03/2012

Jackie era Jack e pode ser Miss Inglaterra

Um mês depois de ter sido seleccionada como concorrente ao título de Miss Inglaterra, a organização do concurso de beleza percebeu que Jackie Green tinha nascido Jack. A mudança de sexo que fez aos 16 anos tornou-a numa das mais jovens transexuais do mundo e pode coroá-la como a mulher mais bonita de Inglaterra.

Quando tinha quatro anos, Jack disse à mãe que Deus tinha cometido um erro e aos 13 anos começou a tentar corrigi-lo. Na prática, estava a corrigir-se a si. “ Até fazer a operação de mudança de sexo tinha nojo do meu corpo. Tomava duche com roupa interior porque não queria olhar para ele. Cheguei a um ponto em que tinha ganho muito peso porque tinha uma auto-estima miserável”, afirma.
Ao princípio, a mãe, Susie, pensou que era apenas uma fase e deixou-o pôr os calções na cabeça como se fosse uma peruca, brincar com bonecas e usar a sua roupa, mas depois de várias tentativas de suicídio e uma de automutilação genital, percebeu que era muito mais do que isso. Jackie só oferecia duas alternativas à mãe: ter uma filha ou ter um filho morto.

As directrizes do Reino Unido relativas à mudança de sexo ditam que só com 16 anos é possível iniciar o tratamento com bloqueadores de hormonas. Com 13 anos, Jackie já sentia o corpo a mudar e queria travá-lo. Daí que com a mãe a seu lado, tenha viajado até aos EUA para contornar a legislação e começar o tratamento. “Aos 16 anos seria tarde demais. Não queria desenvolver uma maçã-de-adão nem voz grossa e, por isso, não podia esperar”.

Incapaz de viver uma vida normal num corpo que não reconhecia como seu, saiu novamente de Leeds, onde mora com a mãe e os irmãos, mas desta vez com a Tailândia como destino. Para pagar a operação de mais de 16 mil euros, Susie, mãe de mais três filhos, hipotecou a casa. Na Tailândia, onde não é necessário ter 18 anos para mudar de sexo, a operação durou sete horas. No dia do seu 16ª aniversário, Jackie saiu do hospital de cadeira de rodas com “uma enorme sensação de alívio. Finalmente o exterior reflectia o meu interior”.

Ao recordar todo o processo que a conduziu até à pessoa que é hoje, Jackie faz questão de sublinhar que não se tratou de um capricho: “O tratamento e a cirurgia [para mudar de sexo] não eram coisas que eu quisesse. Eram coisas de que eu precisava. Sem elas , teria morrido. Se não o pudesse fazer ter-me-ia suicidado”, afirma desde Leeds, onde se prepara para participar em mais um desfile de moda.

Uma vez por ano, o sucesso televisivo Britain and Ireland’s Next Top Model tem um dia aberto onde as pessoas podem experimentar o estilo de vida de uma modelo assistindo a desfiles de moda, actuações de música e participando na festa ao lado de celebridades. Tendo o sonho de ser modelo profissional, Jackie estava lá com amigos a ver os desfiles quando foi abordada pela organização do concurso Miss Inglaterra.
 “Perguntaram-me se não queria tirar umas fotos e ter a possibilidade de ser concorrente ao título.

Claro que disse que sim e umas semanas depois recebi uma carta a dizer que tinha sido seleccionada. Fiquei muito feliz!”. Jackie tinha agora 18 anos, uma figura feminina e esbelta, e nas costas todo um passado de bullying violento. “Tive um grupo de homens na casa dos 40 anos que me espancaram no beco atrás da minha casa. As pessoas cuspiram-me e chamaram-me nomes”.

Uma experiência que faz de Lady Gaga, que criou uma fundação para lutar contra o bullying, a Born This Way, a sua grande ídolo. Jackie também quer evitar que outras pessoas passem pelo que ela passou e por isso, em desfiles de moda e outros eventos, dá a conhecer a fundação que a ajudou a ela e à sua família a lidar com ser uma mulher encerrada no corpo de um menino.

A Mermaids, uma organização que apoia jovens com problemas de identidade de género e suas famílias, conta actualmente com o apoio activo tanto de Jackie, que é embaixadora, como de Susie, que preside à associação.

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