Há de se produzir uma outra resposta que não tangencie tão ameaçadora mente o suicídio, o tédio niilista e a destrutividade. “Grunge is dead”, já estampava na sua camisa Kurt Cobain. . Não se espere do grunge uma afirmação representativa da geração: este movimento aponta, fielmente, a ausência de uma regulação, e a diz gritando, retornando ao feto demandando um outro espaço. Mas foi de lá onde o sol existe e é quente que a década respondeu com mais entusiasmo e ressaltando um possível prazer. “Smoke some pot, have some fun”.
Se a década de 90 é reconhecida como o
espaço onde metaleiros, punks e hippies podiam se encontrar no mesmo
ambiente, Novoselic, em entrevista ressalta que a “pot circle”
favoreceu a união dos guetos, a California foi o exemplo inquestionável
da mistura. Skatistas, metaleiros, groove people e surfistas, todos
submetidos ao novo império desreferenciado.
“Destruir pode ser mais
agradável que sofrido”, respondiam aqueles da costa mais quente. À
noite, todos vão á aquele show daquela banda, numa cave,
preferencialmente, onde o consumo de heroína articulava-se com a diversão
escapista. Maconha ao pôr do sol, ácido à noite com os amigos. Há,
visivelmente, o retorno de uma psicadelia-funk,
que se misturava a um life style desportista.
É só olhar para o pessoal dos Red Hot Chili Peppers e dos Faith No More para
que esse preconceito seja alvejado.
Se o que pode dar fim a angústia é o acto,
como afirma Lacan, este ato não necessariamente precisa ser tão
vinculado à pulsão de morte. Evidencia-se, assim, ainda na primeira
metade da referida década, o surgimento de um novo comportamento e modo
de ser, californian mood: não tão sofrido, e a procura de formas de
diversão.
A estética deles era mais alegre e sugeriam sempre festas
nas praias, romance de fim de tarde e uma toxicomania, ora apavorada,
ora naturalizada. A indumentária despojada era permissiva: dreads
conviviam com tintas nos cabelos, reinventando o visual hippie-surfer,
o xadrez vem com as mangas cortadas e o jeans agora são uns calções rasgados, surrado de tanto usar para andar de skate, reinventando o
próprio grunge, e uma psicadelia funk, dando movimento negro.
Prazer e morte mostraram-se como
maneiras de enfrentar o desbussolamento da década. Passado o começo de
um tom mais depressivo, niilista, de uma discussão de género desesperada
em que a confusão de comportamento de homens e mulheres se mostrava à
frente da cena, pautada na autodestruição e questionamentos
despropositados, sem esperança de resolução, o californian mood – making
rock surge abraçando várias tribos, multiferenciadas e criando uma
estética inovadora, torcendo a angústia em confronto com a lei e poesia
urbana ensolarada. Um tanto com mais prazer.
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