29/05/2012

ANOS 90

O primeiro momento, como qualquer instante angustiante de perda de referência, adveio com as guitar bands masculinas e as tomboy bands femininas. Não virilidade masculina e feminino ora a mercê de uma promiscuidade desnorteada, ora como afirmação masculinizada. Mas, veja bem, quem agüenta tanta instabilidade?

Há de se produzir uma outra resposta que não tangencie tão ameaçadora mente o suicídio, o tédio niilista e a destrutividade. “Grunge is dead”, já estampava na sua camisa Kurt Cobain. . Não se espere do grunge uma afirmação representativa da geração: este movimento aponta, fielmente, a ausência de uma regulação, e a diz gritando, retornando ao feto demandando um outro espaço. Mas foi de lá onde o sol existe e é quente que a década respondeu com mais entusiasmo e ressaltando um possível prazer.  “Smoke some pot, have some fun”.

 Se a década de 90 é reconhecida como o espaço onde metaleiros, punks e hippies podiam se encontrar no mesmo ambiente, Novoselic, em entrevista ressalta que a “pot circle” favoreceu a união dos guetos, a California foi o exemplo inquestionável da mistura. Skatistas, metaleiros, groove people e surfistas, todos submetidos ao novo império desreferenciado.

 “Destruir pode ser mais agradável que sofrido”, respondiam aqueles da costa mais quente. À noite, todos vão á aquele show daquela banda, numa cave, preferencialmente, onde o consumo de heroína articulava-se com a diversão escapista. Maconha ao pôr do sol, ácido à noite com os amigos. Há, visivelmente, o retorno de uma psicadelia-funk, que se misturava a um life style desportista. 

É só olhar para o pessoal dos Red Hot Chili Peppers e dos Faith No More para que esse preconceito seja alvejado.
Se o que pode dar fim a angústia é o acto, como afirma Lacan, este ato não necessariamente precisa ser tão vinculado à pulsão de morte. Evidencia-se, assim, ainda na primeira metade da referida década, o surgimento de um novo comportamento e modo de ser, californian mood: não tão sofrido, e a procura de formas de diversão. 

A estética deles era mais alegre e sugeriam sempre festas nas praias, romance de fim de tarde e uma toxicomania, ora apavorada, ora naturalizada. A indumentária despojada era permissiva: dreads conviviam com tintas nos cabelos, reinventando o visual hippie-surfer, o xadrez vem com as mangas cortadas e o jeans agora são uns calções rasgados, surrado de tanto usar para andar de skate, reinventando o próprio grunge, e uma psicadelia funk, dando movimento negro.

Prazer e morte mostraram-se como maneiras de enfrentar o desbussolamento da década. Passado o começo de um tom mais depressivo, niilista, de uma discussão de género desesperada em que a confusão de comportamento de homens e mulheres se mostrava à frente da cena, pautada na autodestruição e questionamentos despropositados, sem esperança de resolução, o californian mood – making rock surge abraçando várias tribos, multiferenciadas e criando uma estética inovadora, torcendo a angústia em confronto com a lei e poesia urbana ensolarada. Um tanto com mais prazer.

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