10/10/2010

ROBERTO LONGO

O artista que namorou com a fotógrafa Cindy Sherman na década de 80, e vestido de preto, com os inconfundíveis óculos de massa, cabelo volumoso, foi um dos americanos mais falados no mundo da arte, supervisiona toda a montagem da exposição "Roberto Longo - Uma Retrospectiva", no Museu Berardo, em Lisboa.Logo à entrada do Museu somos presenteados com a obra “Death Star”, 1993, uma bola dourada construída a partir de balas, suspensa de uma cruz de traves, que anuncia e promete o impacte da retrospectiva, e um tríptico da série “Men in the Cities”, “Sem título (3 Erics)”, 1980/2000, o tubarão “Sem título (Shark 14)”, 2008 e “Sem título (Cathedral of Light)”, 2009. .

No panorama artístico americano contemporâneo, Robert Longo (n. em 1953, Brooklyn, Estados Unidos, realiza exposições individuais e de grupo desde 1976. Em 1990 aventura-se por territórios cinematográficos com o filme “Johnny Mnemonic”. e dificilmente faria o tipo de arte que faz se tivesse nascido noutro país. Robert Longo é um provocador, irónico de uma forma directa como só os artistas americanos conseguem ser. Demarca-se pela originalidade das técnicas e pela força expressiva das temáticas abordadas. Esta exposição reúne cerca de cinquenta obras representativas da carreira do artista, onde a subversão das imagens massificar e o uso abundante da grafite e do lápis, impõem uma reflexão forte e dramática sobre o mundo contemporâneo.

A obra que popularizou o norte-americano, que em miúdo queria ser jogador profissional de futebol americano ou surfista e acabou por ser artista porque "não conseguia fazer mais nada", foi a série "Men in the Cities" (1978-82). "Não pensava muito na ideia da obra, estava a reagir ao filme 'The American Soldier' e à violência da televisão e do cinema. Pedi a amigos que servissem de modelos. Levava-os para o meu telhado e atirava-lhes bolas de ténis para que se movessem e fotografava-os. Depois desenhei-os. As pessoas diziam que nesta série parecia que as pessoas estavam a dançar ou a morrer, o que não está longe da verdade. Era assim que se dançava nos clubes punk, e também tinha em mente um jogo de crianças em que ganhava quem fingia que 'morria' da melhor maneira."

As fotografias sempre foram essenciais na obra de Robert Longo; são o ponto de partida para o desenho a carvão. "Sou um artista abstracto a pintar de forma representativa. O que desenho são símbolos, não são representações." Nesta exposição só vemos obras a preto e branco, mas Robert quer trabalhar com cor e está a aprender a pintar. "Estou a matar-me com desenhos a carvão e a mina de grafite, porque não uso máscara. É como trabalhar numa mina."

Ao entrar na sala impressiona a intensidade das obras e o seu tamanho. Os temas são tão variados como rosas, bombas, armas ou religião. Mas não estão assim tão afastados. "A arte é encontrar o equilíbrio entre o que existe no mundo, a política, a sociedade e as coisas que me são próximas." Um exemplo claro. Robert Longo diz que até ter filhos era um homem do mundo, tocava em bandas rock - isso ainda acontece esporadicamente - e sabia o que se passava nas ruas. Depois teve filhos e agora são eles que lhe levam o mundo casa adentro. "Costumo jogar basquetebol com o meu filho mais velho, mas um dia não consegui ir e quando ele voltou estava muito entusiasmado. Tinha havido uma briga entre miúdos e um sacou de uma pistola. Fucking horrible." A experiência levou-o para uma nova área de trabalho: as armas. "Quando tenho um tema, torno-me um especialista. Liguei para o FBI e descobri quais eram as armas mais usadas e fiz uma série baseada nelas. É um problema nos EUA. Não digo se são boas ou más. Cada um terá as suas ideias."

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