31/10/2010

WHITE MAGIC

White Magic é uma daquelas bandas assustadoras e intrigantes semelhante aos Black Heart Procession ou os dias mais sombrios na turnê dos Interpol. É claro que estes indie folksters de Brooklyn, N.Y., confiam na força das cordas vocais de Mira Billotte para criar as trilhas sonoras da sua casa assombrada. É a voz quase sobrenatural de Billotte que leva os ritmos e melodias para um estado etéreo.

O projecto criado por Mira Billotte, os White Magic têm sido das mais fascinantes entidades a trabalhar a forma, a tradição e a progressão da canção anglo-saxónica neste novo século. Parecem preocupar-se com todos os elementos – as frases, o desenho do ritmo, uma nova reconversão harmónica de elementos vocais e instrumentais, a invenção melódica das suas construções musicais.

O seu trajecto público inicia-se com a discreta mas não menos interessante banda Quix*o*tic, que abandona em 2003 para criar os White Magic, que cedo editam dois EP’s marcantes – In Through the Sun Door e um outro a meias com o grupo norte-americano American Analog Set. Está logo desde o princípio do seu trabalho editorial a extremamente invulgar cadência das melodias de Billotte, que fazem coabitar a abertura frásica da canção jazz mais simultaneamente livre e objectiva (a Billie Holiday de Strange Fruit), a espiral da música etíope de Alemayehu Eshete ou Mahmoud Ahmed, ou a delicadeza gravitacional de Karen Dalton.

Dat Rosa Mel Apibus, pela Drag City, foi o primeiro registo em longa-duração, e levou este amplo vocabulário para paragens psicadélicas muito próprias, dando mais extensão e invenção de estúdio sem por nunca perder a concisão da música White Magic.

Foi já em 2007 que o fenomenal EP Dark Stars saiu, contando com a participação e composição decisivas do britânico Doug Shaw, que se manteve desde então como uma espécie de escritor-adjunto do projecto – trouxe à banda mais soltura e um contraste luminoso para toda a densidade enigmática e por vezes turva de Billotte. No mesmo ano, Billote contribuiu para o estrambólico filme I’m Not There de Todd Haynes, com a sua versão do original de Bob Dylan As I Went Out One Morning.

2008 viu o lançamento pela Latitudes de uma peça, New Egypt, versão quase definitiva do formato longo de canção desta primeira fase dos White Magic.

Voltam, neste seu ritmo imprevisível de trabalho público e edições, mas com imparável coerência e inventividade, a lançar um disco de média duração durante este Outono.

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