21/01/2010

DAVE EGGERS - O Sítio das Coisas Selvagens

É um dos "meninos de ouro" da literatura americana, transformou uma história com 300 palavras de Maurice Sendak, num filme e num romance de quase 300 páginas "O Sítio das Coisas Selvagens".

Quando nas tardes dos anos 70, na casa em que o pequeno Dave morava com os pais e dois irmãos mais velhos num subúrbio de Chicago, passava na TV "O Feiticeiro de Oz", ele via-o escondido atrás do sofá. Por isso, quando ouviu a história e folheou o livro "Where the Wild Things Are" ("Onde Vivem os Monstros"), de Maurice Senda.

Nessa altura, o pequeno Dave Eggers (n. 1970) estaria longe de imaginar que daí a três décadas seria co-autor do argumento de um filme baseado nessa história que o aterrorizou - feita com pouco mais palavras (no original em inglês) das que as que tem este parágrafo - e também que um dia, esse mesmo senhor Maurice Sendak que a inventou e fez os desenhos que a ilustram, lhe telefonaria para o convencer a escrever um romance ("O Sítio das Coisas Selvagens", Quetzal, 2009) que recriasse a história do irrequieto Max e dos monstros que ele encontra.

Das marcas deixadas na infância,(Em várias entrevistas menciona o facto de ter tido uma infância enclausurada, com horários pré-definidos para tudo, mas mais "selvagem" que a de Max: costumava jogar futebol com bolas de ténis em chamas, banhadas em querosene) cria em 2002, em São Francisco, uma organização sem fins lucrativos, a "826 Valencia", que ensina crianças e jovens entre os seis e os 18 anos a escrever ficção- estendeu-se a outras cidades como LA, Nova Iorque, Chicago, Boston. Este lado mais ou menos filantropo de Eggers, que parece querer fazer carreira como "escritor com causas", tem também forte expressão literária. Um dia, conheceu Valentino Achak Deng, refugiado sudanês estabelecido em Atlanta. Durante meses ouviu as suas histórias de menino perdido na guerra civil do Sudão, nos campos de refugiados por onde passou, como chegou aos EUA, e tomou muitas notas de tudo. Depois pôs mãos à obra e escreveu um romance brilhante, "What Is What" ("O Que é o Quê", Casa das Letras, 2009), "autobiografia" ficcionada que se tornou num "bestseller". Com o dinheiro obtido com os direitos do livro, que foi entregue a Valentino Achak Deng, este criou uma fundação com o seu nome que se propõe construir escolas secundárias no sul do Sudão; a primeira foi inaugurada em Maio.

Mais recentemente, já em 2009, foi a vez da publicação de "Zeitoun", a história de uma família muçulmana, sírio-americana, que viu ser preso Abdulrahman Zeitoun, um habitante de Nova Orleães que se deixou ficar na cidade durante o furacão Katrina para ajudar no salvamento dos necessitados que o Estado abandonara à sua sorte, e que depois foi acusado de terrorismo pela administração Bush. Também o dinheiro obtido com os direitos deste livro (a publicar este ano em Portugal pela Quetzal) reverte a favor da Fundação Zeitoun, que se dedica à defesa dos direitos humanos.

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