11/04/2010

KRAUTROCK

Tal como Holger Czukay dos Can, também Ralf Hutter e Florian Schneider estudaram com Stockhausen. Quando a indústria discográfica alemã percebeu que havia público para a nova sonoridade que se desenhava no final dos anos 60 - e que levou ao aparecimento de labels especializadas como a Ohr ou a Brain. Foi o caso dos Organization que editaram Tonefloat em 1970, que depois mudam de nome para Kraftwerk.

Na década de 60, a identidade musical alemã dividia-se em dois extremos: por um lado os inócuos cantores populares que na televisão por outro o exemplo extraordinário do compositor Karlheinz Stockhausen, cuja música circulava pelos mesmos meios académicos que haveriam de incendiar a realidade política e social das capitais europeias antes do final da década. O compositor alemão esteve na Califórnia onde deu palestras sobre música experimental a audiências que incluíam gente como Jerry Garcia dos Grateful Dead ou Grace Slick dos Jefferson Airplane e, como explica Julian Cope no seu seminal livro Krautrocksampler (Head Heritage, 1995), "ao invés de desprezar a nova música, Stockhausen foi visto num concerto dos Jefferson Airplane no Filmore West e terá dito que a música o "arrasou completamente"". Os jovens músicos alemães estavam atentos: o mesmo compositor sério que simbolicamente tinha "destruído" o hino alemão na sua famosa obra Hymnen irritando tanto a esquerda intelectual como a direita conservadora abraçava também as possibilidades da experiência psicadélica. Holger Czukay, aluno de Stockhausen e ele próprio professor, mostrava obras do seu mestre a alunos em 1968. Um deles, Michael Karoli, respondeu na mesma moeda e tocou uma gravação de "I Am The Walrus" dos Beatles numa aula. Czukay, até aí imerso no universo erudito, teve uma revelação, e juntamente com Irmin Schmidt e Michael Karoli formou uma banda de rock - os influentes Can que haveriam de visitar Lisboa no final da década seguinte.

No meio de todos estes freak-outs, gritos, feedback, drones, do pulsar mecânico e das ambiências electrónicas existia a música dos Kraftwerk, dos Can, Amon Düül II (que tocaram no Dramático de Cascais, em 1977), Floh de Cologne, Guru Guru, Faust, Neu!, Embryo, Popol Vuh, Ash Ra Tempel ou Tangerine Dream - entre tantas outras grandes bandas alemãs da década de 70 identificadas com um único termo - krautrock .

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