13/03/2010

PIERO PAOLO PASOLINI

O manuscrito de 78 páginas que apareceu há dias em Itália constitui, segundo tudo indica, um capítulo inédito do romance póstumo de Pier Paolo Pasolini, "Petróleo", no qual o escritor e cineasta andava a trabalhar quando foi assassinado, em 1975, e que só veio a ser publicado em 1992. O homem que o detinha e que agora revelou a sua existência, Marcello Dell'Utri, foi durante muito tempo o braço-direito do actual primeiro-ministro Silvio Berlusconi e enfrenta neste momento uma pena de nove anos de cadeia por apoio à Mafia. Dell'Utri diz que o texto é "inquietante para a ENI [a recém-privatizada petrolífera italiana]" e para a história italiana recente.

O documento deverá ser publicamente apresentado na abertura da XXI Mostra do Livro Antigo de Milão, este ano dedicada a Pasolini, apesar do apelo lançado por um amigo do autor, Gianni D'Ellia, que defende que o Estado deve tomar posse do manuscrito, uma vez que não parecem restar dúvidas de que foi roubado no assalto efectuado à casa de Pasolini logo após a sua morte. D'Ellia recorda ainda que, na sequência das declarações feitas em 2005 pelo assassino confesso de Pasolini, Giuseppe Pelosi, a investigação do seu homícídio foi reaberta. Pelosi, que tinha 17 anos quando cometeu o crime, veio dizer, 30 anos mais tarde, que este lhe fora encomendado por três homens com sotaque do Sul que chamaram a Pasolini "porco comunista".

Como Pasolini andava a investigar as relações perigosas entre a política, os negócios e o mundo do crime organizado, foi muitas vezes aventada a hipótese de que teria sido morto para não divulgar o que sabia. Dois dos protagonistas de "Petróleo" são Enrico Mattei e Eugenio Cefis, ambos ligados à ENI.

 in Publico

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