10/09/2010

BILL VIOLA

Se Calhau problematiza a utilização da imagem, negando-a, o artista norte-americano da mesma geração, Bill Viola (1951), parece enaltece-la, interrogando-a nos seus excessos. Utilizando como meio a imagem em movimento (muitas vezes em câmara lenta, o que nos impõe outro modo temporal que não o da percepção humana habitual), Bill Viola, pioneiro da vídeo-arte, coloca na sua obra alguns dos problemas antropológicos anteriormente abordados: a relação que estabelecemos com o mundo e a sua percepção, o problema da morte e a sua articulação com a vida, a experiência de um tempo deslizante, automático e rápido que é necessário fazer parar.

As instalações e os vídeos de Viola apresentam um profundo manancial simbólico, a que não é estranho a formação budista do autor, o conhecimento da história das religiões e da arte e mística cristã – por isto tantas vezes é criticado por corresponder a uma certa formulação sincrética espiritualista de tipo New Age. A utilização da água e do fogo, a apresentação da morte e do nascimento, a relação entre a luz e as trevas. E nos últimos anos a referencia e citação de outras obras da arte cristã. Os títulos de algumas das suas obras são já reveladores dos seus interesses: “O quarto de S. João da Cruz”; “Passagem”; “A cidade dos homens”; “O portão dos anjos”; Santuário”; “Céu e terra”; “Rezar sem cessar”; “Pneuma”; “A saudação”; “O mensageiro” e mais recentemente a instalação “Cinco anjos para o milénio”.

Bill Viola explica que foi através das tradições orientais, hindu e budista, que descobriu as raízes místicas da sua própria tradição cristã: os padres do deserto, os gnósticos do cristianismo primitivo, Mestre Eckart, S. João da Cruz, Santa Teresa de Ávila, e obras como A nuvem do não saber: exemplos da via negativa, apofática. E cita Mircea Eliade para lembrar que “o sagrado é uma parte da estrutura da consciência e não um estádio na evolução da consciência. Ou seja, não houve uma época em que as coisas eram mais espirituais do que hoje. (...)

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