18/09/2010

TRISHA BROWN DANCE COMPANY

Trisha Brown, uma das coreógrafas centrais do movimento da dança pós-moderna americana, apresentou as suas performances, pela primeira vez, ao público, na Judson Memorial Church (Washington Square, Nova Iorque), um lugar de encontro de uma comunidade artística irreverente que integrou bailarinos, artistas visuais, músicos, poetas e cineastas.

A reunião deste colectivo de artistas nasce na classe de composição, apoiada por Cunningham e orientada por Robert Dunn, um músico que estudou com John Cage, e constitui-se pela necessidade de um espaço livre de experimentação colectiva e de confluência de múltiplas áreas disciplinares.

Na dança e coreografia foram relevantes as participações dos bailarinos e coreógrafos Lucinda Childs, Steve Paxton, Yvonne Rainer, Simone Forti, Deborah Hay a que se associaram outros criadores como Meredith Monk, La MonteYoung, Robert Morris, Alex Hay e Robert Rauschenberg. Alguns destes criadores tinham convivido anteriormente com Trisha Brown nos workshops de Verão de Anna Halprin, na Califórnia, e nos estudos realizados no Merce Cunningham Studio, em Nova Iorque.

A 6 de Julho de 1962, é apresentada a primeira iniciativa “Concert on Dance 1#”, e inaugurado o domínio da dança pós-moderna americana pelo grupo de performers da Judson Dance Theater. A libertação das convenções associadas à significação e à dimensão psicológica do movimento da dança, a tomada de consciência do uso do corpo do intérprete, a introdução de movimentos e acções da vida quotidiana, a intervenção no espaço público e a urgência na aproximação da arte à vida, são fundamentos centrais definidos por esta geração.

Trisha Brown junta-se igualmente a outros grupos de artistas participando em eventos Fluxus e nos Happenings criados por Robert Witman.

No início da década de 70, faz parte do colectivo de improvisação Grand Union, unindo-se a Yvonne Rainer.

Simultaneamente, a coreógrafa cria a sua própria companhia e as suas primeiras peças para espaços alternativos e pouco usuais - lofts, telhados, parques de estacionamento, praças e galerias de arte - explorando a presença do corpo em contextos surpreendentes, retirando-lhe aparentemente o peso e a territorialidade, e deslocando a percepção habitual do espectador.

A sua dança manifesta-se pela atenção dada à estrutura através de tarefas sequenciais e de gestos repetidos, propostos aos bailarinos como jogos com “instruções”, destinados à exploração do movimento e ao entendimento da organização espacial (“um gesto depois do outro” - como Donald Judd referiu).

As peças Sticks (1973), Spanish Dance (1973), Figure Eight da primeira parte do programa, correspondem a este período.

Nos finais da década de 70 e início dos anos 80, Trisha Brown abandona os espaços alternativos para reinvestir no espaço formal do palco (“Trisha veio para casa (Teatro) quando se apercebeu que não a tinha e que lhe fazia falta” - Robert Rauschenberg).

Neste âmbito, experimenta a inclusão de movimentos mais instintivos e multidireccionais e o desenvolvimento de um vocabulário espontâneo, centrado na destreza da fisicalidade dos intérpretes. Brown recorre regularmente aos ecos e ideais criativos dos anos 60 e 70, de modo a contrariar as imagens convencionalmente associadas ao espaço teatral e centra-se nas colaborações artísticas integrando nos seus espectáculos música, instalação, texto, figurinos e iluminação.


A colaboração criativa e a longa amizade entre Trisha Brown e Robert Rauschenberg tem início neste período - Glacial Decoy (1979), Set and Reset (1983), Astral Convertible (1989), Foray Forêt (1990), If you couldn’t see me” (1994).

Robert Rauschenberg é responsável pelos figurinos da peça Foray Forêt e autor do figurino e do espaço visual e sonoro da peça If you couldn’t see me.

Em Foray Forêt, uma fanfarra local toca afastada do palco ligando o teatro ao espaço público exterior. Forêt refere-se a França, país de estreia mundial da peça e à floresta de infância de Trisha Brown em Washington State. A peça, criada em secções modulares é significativa do retorno de Trisha a um vocabulário de formas simples e de activação do gesto. A percepção do público é central “O que vemos?” Uma dança silenciosa, suspensa, distante.

No solo If you couldn’t see me, Trisha Brown contraria a convenção frontal da representação propondo uma dança de costas para a audiência que, ocasionalmente, percepciona o perfil do corpo da bailarina abaixo do pescoço. Desafiar a instabilidade da postura e da expressão dos movimentos, obrigatoriamente laterais, e partilhar uma relação inversa com o público, são ideias corporizadas nesta experiência, propostas com a cumplicidade de Robert Rauschenberg.

A apresentação em Serralves, Porto, foi em 2008, e pertence ao ciclo CICLO PARALELO À EXPOSIÇÃO “ROBERT RAUSCHENBERG: Em viagem 70–76”.

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