15/05/2010

RAUL TABORDA DAMONTE - COPI

Raul Taborda Damonte, conhecido como Copi, nasceu na Argentina em 1940 e tornou-se uma figura controversa na França, nunca escondendo sua condição de exilado, homossexual e portador do vírus HIV. Escreveu a sua primeira peça em Buenos Aires, em 1962 (Un angel para la señora Lisca), mas foi em Paris que produziu o essencial de sua obra.

Copi, morreu com Sida em 1987. "O frigorífico" é um dos emblemáticos monólogos que Copi chegou a representar, em 1983, o Teatro Plástico estreia na Fundação Escultor José Rodrigues, no Porto, em 2008.

"A produção artística de Copi dá-nos conta de uma série de tensões entre a arte e o género, entre a cultura de massas e a cultura popular e entre linguagem e estética, pelo que a sua obra resiste a classificações", escreveu a ensaísta Laura Vázquez, no ano passado, no Boletín de Estética do Centro de Investigaciones Filosóficas de Buenos Aires

Ainda assim, será fácil identificar Copi como pioneiro da arte "queer", numa época em que o termo inglês "queer" ("maricas" ou "esquisito") era ainda insultuoso e não tinha ganhado a carga contra-ideológica que o faz hoje designar identidades sexuais não normativas, pessoas que se recusam a ser categorizadas e escolhem situar-se nas fronteiras dos géneros e das sexualidades. "Uma das razões da grandeza de Copi, e do desdém com que, até agora, a sua obra tem sido tratada entre nós [argentinos], tem seguramente a ver com a violência com que irrompe na cena mundial para propor uma ética e uma estética trans: transexual, pós-nacional, pós-linguística", explicava o crítico literário Daniel Link, em 2008, no blogue "Linkillo (Cosas Mías)".

Essa perspectiva é confirmada pelo actor e encenador Luís Castro, do grupo Karnart, que associa o cunho "queer" da produção de Copi ao movimento de contra-cultura dos anos 60 e 70. "Interessa-me o lado de intervenção social que as suas peças carregam e as personagens consistentes que proporciona aos actores", diz. Castro traduziu "O Homossexual Ou a Dificuldade em Exprimir-se" e levou-a a cena em 2005 e 2007; em 2008, montou, também em Lisboa, "A Torre de La Défense", em 2008. Que sensação lhe deixaram esses textos? "A sensação de ter partilhado com um autor interventivo preocupações éticas de enorme importância e de ter projectado no público verdades, mesmo se ambíguas e metafóricas, carregadas de enorme plasticidade e dotadas de uma estética fortíssima."

Quase 23 anos depois da morte, Copi reaparece em Portugal e Espanha, em sucessivas reedições. Há mais livros previstos para 2011. Afinal, o pioneiro da arte "queer" não morreu para sempre

Chamar-lhe o quê? Dramaturgo, actor, romancista, cartoonista? Encaixá-lo onde? Contra-cultura dos anos 70, boémia intelectual de Paris, arte engajada, estética "queer"? Em rigor, tudo vale para Copi, pseudónimo de Raúl Damonte Botana, nascido em Buenos Aires em 1939, exilado em Paris a partir de 1962, vítima da sida em 1987. "Tão poderoso, tão magnífico, tão trágico, tão desgarrado, tão tremendo, a desmesura", escreveu sobre ele o jornalista argentino José Tcherkaski. Agora que as suas obras começam a ser reeditadas em Portugal e em Espanha, é como se houvesse uma nova oportunidade para descobrir um criador incontornável da segunda metade do século XX. Um criador que, por ter querido circular nas margens, e por aí se ter forjado, conseguiu ser reconhecido pelas elites intelectuais mas nunca se tornou um nome familiar para o grande público.

Não é uma febre editorial, mas para lá caminha. Em Portugal, foram publicadas em Janeiro cinco das suas peças, em duas edições distintas: "Uma Visita Inoportuna", pela Livros de Areia, e "O Homossexual ou a Dificuldade em Exprimir-se e Outros Textos", na colecção Livrinhos de Teatro. Em 2011, ou 2012, deverão sair, nesta mesma colecção, mais três peças: "As Quatro Gémeas", "Uma Visita Inoportuna" (em tradução alternativa à da Livros de Areia) e "A Noite de Dona Luciana". Do lado de lá da fronteira, dois romances e dois contos, um dos quais estava inédito, acabam de ser compilados pela Anagrama, de Barcelona: "Obras (Tomo I)" junta "El Uruguayo", "La Vida Es Un Tango", "La Internacional Argentina" e "Río de La Plata". O segundo tomo está pensado para 2011, informa a editora, e incluirá os textos "El Baile de Las Locas", "Las Viejas Travestís" e "Virginia Woolf Ataca de Nuevo".

in Público

Sem comentários:

Enviar um comentário