16/05/2010

O regresso de Vinicius Cantuária

Amanhã, no São Luiz, o músico brasileiro partilha o palco com o pianista português Mário Laginha.

Quando o músico brasileiro Vinicius Cantuária conheceu o pianista português Mário Laginha, há cerca de dois anos, a cumplicidade foi imediata: "Eu já o conhecia dos discos, já era admirador do trabalho dele", conta o brasileiro. "Mas, aí, conversámos e decidimos que tínhamos de fazer qualquer coisa juntos. Só que as nossas agendas estavam muito complicadas. Quando eu soube que vinha fazer um concerto a solo em Portugal, mandei um e-mail desafiando-o e ele respondeu dizendo que também estaria por cá. Ficou combinado." O encontro irá acontecer, finalmente, amanhã à noite, no Teatro São Luiz, em Lisboa.

Vinicius Cantuária inicia em Portugal uma breve digressão europeia para apresentar o seu mais recente disco, Samba Carioca. Entre as cerca de 20 músicas que constam no alinhamento, meia dúzia irá ser partilhada com Laginha. "Vamos tocar temas meus e dois clássicos de Tom Jobim, porque eu queria muito saber como é que o piano português iria ficar na bossa nova." O contrário também vai acontecer e Vinicius Cantuária vai cantar Lua Partida ao Meio, tema que Laginha fez com Maria João, que na versão original imitava o sotaque brasileiro para cantar "se eu fosse muito guloso, comia essa lua em forma de queijo".

Vinicius Cantuária e Mário Laginha iam ensaiar juntos pela primeira vez ontem, ao final da tarde, mas o brasileiro não escondia o seu entusiasmo: "Este encontro surge num momento em que eu estou a dar muita atenção ao piano." Samba Carioca foi gravado entre o Brasil e os EUA e contou com cúmplices como Marcos Valle, João Donato (pianistas brasileiros), Brad Mehldau (pianista americano com quem Cantuária já tinha trabalhado) e o guitarrista Bill Frisel (guitarrista). "Este disco vai pegar uma ideia antiga, dos trios de piano, baixo e bateria que, nos anos 70, interpretavam em bares standards de jazz", explica o músico. Neste concerto, onde para além de Laginha não haverá mais músicos, Vinicius Cantuária trará voz e violão, mas promete surpreender a audiência com umas "experiências" com "um loop de percussão gravado na hora".

Mas as "experiências" portuguesas não se ficam por aqui. Ainda este mês, Vinicius Cantuária vai tocar no Barbican Center, em Londres, num concerto cuja primeira parte será assegurada por Rodrigo Leão e pelo seu Cinema Ensemble: "É a primeira vez que o vou ver. Conheço a sua música principalmente pelos Madredeus. Mas aqui abre- -se mais uma janela e quem sabe futuras colaborações."

"Experiências" não faltam na carreira de Vinicius Cantuária. Formou a primeira banda com 12 anos. Nos anos 70, foi baterista dos grupos O Terço e A Banda Atómica, exemplos do rock progressista brasileiro. Nos anos 80, começou a cruzar-se e a tocar com nomes como Luiz Melodia, Gilberto Gil e Caetano Veloso - foi precisamente num disco de Caetano, Outras Palavras, que deu nas vistas como compositor, com o tema Lua e Estrela. Em 1982, o primeiro disco em nome próprio, intitulado precisamente Vinicius Cantuária, incluía o sucesso Coisa Linda e abriu caminho a uma série de concertos e discos em que Vinicius mostrou os seus dotes não só como compositor mas também como cantor. Nos anos 90, mudou-se para Nova Iorque para, como explicou, "fazer música tradicional do Brasil, no sentido das harmonias e dos ritmos, procurando abri-la à contemporaneidade". Tucumã (1999), Horse and Fish (2004) ou Cymbals (2007) são alguns dos discos mais famosos desta fase da sua carreira - até hoje, ele assume-se como um brasileiro em viagem.

Eu sou um admirador da obra de Vinicius Cantuaria, um dos grandes concertos que assisti ao vivo ( e já vi mais de 200) foi o que ocorreu numa noite de chuva no Palácio de Cristal no Porto - está guardado para memoria futura

Sem comentários:

Enviar um comentário