15/05/2010

CORNELIUS CARDEW



A exposição e o programa paralelo dão conta do legado de um dos nomes fundamentais da música produzida na segunda metade do século XX.

Uma exposição e um programa paralelo excepcional: "Cornelius Cardew e a Liberdade da Escuta" chega à Culturgest-Porto, a 8 de Maio, depois de ter passado por Brétigny, França, e Estugarda, Alemanha. A iniciativa, comissariada por um quarteto formado por Dean Inkster, Jean-Jacques Palix, Lore Gablier e Pierre Bal-Blanc, dá conta do percurso e do legado de um dos nomes fundamentais da música produzida na segunda metade do século XX. No final dos anos 1950, Cardew (1936-1981) foi responsável pela divulgação junto do público inglês de diversos compositores ligados à vanguarda norte-americana, como John Cage, Morton Feldman, La Monte Young e Christian Wolff. Nessa época, escreveu porventura aquelas que são as suas obras mais conhecidas: "Treatise" (1963-67) e "The Great Learning" (1968-71), uma obra experimental inspirada em versões de textos de Confúcio elaboradas por Ezra Pound. Em 1966, Cardew juntou-se aos AMM, grupo de improvisação livre, que, entre os fundadores, conta com o guitarrista Keith Rowe e o percussionista e baterista Eddie Prévost.

Dois anos depois, o compositor inglês criou ainda, com Howard Skempton e Michael Parsons, a Scratch Orchestra. Cardew voltou-se então para um projecto político de cariz marxista-maoísta, em que a música participava do objectivo de libertação do povo, inspirando-se, para o efeito, na tradição popular inglesa e criando temas que ostentavam títulos como "Smash the social contract" e publicando ainda, em 1974, o livro "Stockhausen serve o imperialismo." Estes e outros aspectos da vida e obra de Cardew - que morreu atropelado em circunstâncias ainda não totalmente claras, segundo o seu biógrafo e amigo, o pianista John Tilbury - serão revisitados, até 25 de Junho, numa sucessão impressionante de concertos, conferências e performances, que incluem, entre outros, os nomes de Christian Wolff, Tania Chen, Keith Rowe, Marcus Schmickler, Piotr Kurek, Rhys Chatam, Nina Canal, John Tilbury e Terre Thaemlitz. Imperdível.

Para além da exposição, este projecto engloba ainda um intenso programa de concertos, performances e conversas, ao longo do qual vários músicos e artistas internacionais interpretam partituras de Cardew e respondem ao seu trabalho de formas muito diversas, dando conta quer da duradoura vitalidade do trabalho do compositor e do seu contributo fundamental para a história da música experimental, quer da ressonância actual da sua obra e das suas ideias nas práticas musicais e artísticas contemporâneas.

Cornelius Cardew é indiscutivelmente um dos mais importantes compositores da segunda metade do século XX. Embora não tenha tido ainda um reconhecimento público alargado – ao contrário de Karlheinz Stockhausen e de John Cage, que influenciaram decisivamente a sua obra num período inicial –, Cardew inspirou toda uma geração de compositores e músicos de vanguarda, sendo reivindicado como importante influência por nomes como Gavin Bryars, Brian Eno, Michael Nyman, Frederic Rzewski ou Christian Wolff.

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